terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Fillaboa, um Albariño de estirpe



Fillaboa quer dizer “filha boa”, em galego. É o nome de uma bodega espanhola localizada em Pontevedra, próximo ao rio Minho, que divide Portugal e Espanha. Uma vinícola que produz vinhos brancos vibrantes com a casta Albariño. Dois rótulos podem ser comprados no Brasil: Fillabora Albariño e Fillaboa Albariño Selección Finca Monte Alto, este último, altamente pontuado pela crítica internacional.

Recentemente, numa degustação realizada na parrilla Meat Shop, em Florianópolis, provei o Fillaboa 2009. Em viagem à Galícia, em 2008, provei pela primeira vez esse vinho, da safra 2007. Na primeira prova, tive certeza de estar bebendo um vinho intenso, profundo em aromas e amplo em boca. Ao tomá-lo pela segunda vez, no início deste ano, a sensação foi de agradável revival. O vinho confirmou o encantamento que senti ao tomá-lo pela primeira vez. Sem dúvida, um belo exemplar produzido com essa casta que gera vinhos frescos, intensos, minerais e frutados.

As uvas Albariño

A Albariño e Alvarinho são a mesma uva. A Albariño gera brancos nas Rias Baixas, a parte sul costeira da Galícia, no nordeste da Espanha. As rias são braços de mar que avançam continente adentro. Uma região verde e montanhosa, margeada pelo oceano Atlântico, e que fornece peixes e frutos do mar fantásticos para combinar com os brancos intensos de Albariño. Já a Alvarinho produz vinhos brancos igualmente excelentes, só que na outra margem do Minho, na região dos Vinhos Verdes, em solo português.

A rota dos vinhos das Rias Baixas

A região vitivinícola das Rias Baixas se espalha pelas províncias de Pontevedra e La Coruña. A área se divide em cinco zonas: Val do Salnés, Condado de Tea, Soutomaior, O Rosal e Ribeira de Ulla. É possível, dentro dessas zonas, fazer a rota dos vinhos regionais. E provar deliciosos Albariños.

Há, na região das Rias Baixas, 7 mil vitivinicultores, que plantam 3.6 mil hectares de uvas e produzem, em média, 12,5 milhões de litros de vinhos por ano. Os dados são do Conselho Regulador da Denominação de Origem Rias Baixas, que fica em Pontevedra. Os numeros são relativos ao ano de 2008. Naquele ano, 205 bodegas estavam em operação, na região. E 95% de todos os vinhedos eram de Albariño. O moderno sistema de condução em espaldeira divide espaço com a tradicional pérgola (latada) ou parra, em espanhol. O motivo da existência desse sistema de condução, no qual os cachos de uvas ficam bem altos, é a grande umidade local. Se os cachos ficassem próximos ao solo, o risco de podridões seria bem maior.

Vinhedos de Albariño, em latada e espaldeira

Na região das Rias Baixas, a produtividade média de uvas por hectare gira em torno de 7 a 7,5 toneladas. Um número excelente. O máximo permitido pelo conselho regulador é de 11 toneladas por hectare. Mas, segundo dirigentes do órgão, isso nunca é atingido. É proibida a chaptalização na região (adição de açúcar de cana ao mosto, para aumentar o teor alcoólico dos vinhos). Os vinhos locais não podem ter menos de 11o C de álcool, obtido com o açúcar natural dos frutos. Uvas autóctones são cultivadas, na região, ao lado da Albariño. Entre as brancas estão a Godello, Torrontés, Caíno, Treixadura e Loureira. Entre as tintas, a Brancelao, Mencía, Sousón, Loureira Tinta e Caíno Tinta.

Um branco vibrante

Seguramente ainda não foram dados aos vinhos de Albariño o destaque e o valor que eles merecem, ao lado dos grandes brancos do mundo. Os vinhos da península ibérica começam, nesse momento, a ganhar maior destaque no cenário vinícola internacional. Há, por parte de produtores e órgãos promotores, ações para mostrar a qualidade e diversidade desses produtos. E isso poderá levar os Albariños e Alvarinhos a uma posição de maior prestígio. Na minha opinião, os grandes vinhos dessa uva ibérica nada ficam a dever aos intensos Rieslings alemães e aos nervosos Sauvignons do velho e novo mundo. Todos, vinhos intensos e marcantes.

Garrafas de Albariño, um vinho que flutua no paladar

A Fillaboa

A Bodegas Fillaboa ganhou, em 2007, o prêmio de melhor produtor de Albariño do ano pela Food & Wine Magazine. A vinícola é comandada pela família Masaveu, que produz vinhos desde o século XIV, na Espanha. Com 70 hectares, a vinícola é uma da maiores e mais tradicionais da região.

O Fillaboa Albariño 2009 é um vinho de presença. Tem cor amarelo palha cristalino. O nariz é cítrico e frutado, lembrando abacaxi e frutas de caroço. Em boca é intenso, com frescor trazido por uma acidez crocante. E tem traços de mineralidade. É longo e persistente, deixando aquela sensação final de quero mais.

À mesa, o Fillaboa Albariño 2009 é grande companheiro para pratos com mariscos, sardinhas fritas, camarões e caranguejos ao bafo; ostras in natura, sushi e sashimi, além do polvo. Na Galícia, o pulpo preparado com azeite e páprica celebra, com os vinhos Albariño, uma harmonização regional. Um grande vinho para a culinária do mar.

Um vinho para a gastronomia do mar

O Fillaboa é trazido ao Brasil pela importadora Porto Mediterrâneo, com sede em Balneário Camboriu, Santa Catarina (www.portomediterraneo.com.br). A Porto Mediterrâneo é uma jovem importadora, fundada em 2007 . Ela iniciou suas atividades com um portfólio de 30 rótulos. Entre eles, os vinhos da bodega argentina Antis e da chilena Surazu. Em menos de quatros anos, a empresa quadruplicou seu portfólio, chegando a 120 rótulos de cinco países: Argentina e Chile, do novo mundo; Portugal, Espanha e França, do velho mundo. O maior time de produtores vem da Espanha, sete ao todo.

“Nossa política para a escolha de produtos é focada na seleção de produtores de pequeno e médio porte, que ofereçam vinhos com excelente relação preço/qualidade” afirma Júlio Schmidt, da Porto Mediterrâneo. A empresa tem representantes e/ou distribuidores em 16 estados brasileiros. Em Florianópolis, a importadora tem vinhos nas cartas de cerca de 60 restaurantes. No Brasil, o número de restaurantes com vinhos da Porto Mediterrâneo chega a 400, informa Júlio Schmidt. A empresa não tem lojas próprias e seus vinhos podem ser encontrados em cerca de 100 lojas multimarcas, pelo Brasil. O telefone da importadora, em Balneário Camboriu, é (47) 3263-0006.


* Se você gosta de Enogastronomia, visite o blog programapaoevinho.blogspot.com. Ali você encontra dicas de harmonizações, receitas e vídeos com programas.

* Se você quer conhecer mais sobre os vinhos de altitude de Santa Catarina, visite o blog vinhosdesantacatarina.blogspot.com. Ali você conhece perfis dos vinhos das altitudes catarinenses, as vinícolas e fica à par de lançamentos.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Villaggio Bassetti lança seus vinhos de altitude produzidos em São Joaquim



A propriedade da Villaggio Bassetti em São Joaquim (foto de divulgação)

Mais uma vinícola catarinense acaba de lançar seus vinhos no mercado brasileiro. É a Villaggio Bassetti, uma jovem empresa instalada em São Joaquim, na serra de Santa Catarina. São quatro rótulos: o Sauvignon Blanc Villaggio Bassetti 2010, o rosé Villaggio Bassetti 2010, o Merlot/Cabernet Montepioli 2009 e o Cabernet Sauvignon Primiero 2008. Os dois tintos foram elaborados pelo processo chamado de integral ou girolate. Pelo sistema, toda a elaboração do vinho acontece dentro das barricas, da fermentação ao amadurecimento.

Com a Villaggio Bassetti, chega a 17 o número de vinícolas catarinenses com vinhos de altitude no mercado brasileiro. Juntas, elas respondem por cerca de 150 rótulos, segundo dados da Associação Catarinense dos Produtores de Vinhos Finos de Altitude – Acavitis. Um número respeitável, para uma vitivinicultura cujos primeiros vinhedos comerciais começaram a ser formados há apenas 10 anos. E que, nesse período, apresentou ao país diferentes estilos de vinhos – espumantes, vinhos tranqüilos, vinhos doces naturais, vinhos fortificados – todos produzidos com uvas viníferas plantadas no sistema de espaldeira e elaborados dentro das mais modernas tecnologias de vinificação.

Vinhedos e araucárias (foto de divulgação)

Vinhedos acima dos 1.200 metros

A Villaggio Bassetti é uma empresa familiar, formada pelos irmãos José Eduardo, Marco Aurélio e Cesar Juliano. Eles começaram a plantar os primeiros vinhedos em 2005, na cidade de São Joaquim. As videiras foram plantadas em altitudes que variam dos 1.230 aos 1.280 metros com relação ao nível do mar. Hoje são 13 hectares de vinhedos, de um projeto que prentende chegar a 25. São oito hectares próprios e outros cinco plantados em áreas de produtores parceiros, administrados pela Villaggio Bassetti. Estão plantadas, nesses vinhedos, as castas francesas Sauvignon Blanc, Pinot Noir, Merlot e Cabernet Sauvignon. E a uva italiana Sangiovese.

A primeira safra da Villaggio Bassetti foi colhida em 2008. A variedade foi a Cabernet Sauvignon. Uma colheira pequena, com a qual foram produzidas 520 garrafas do Primiero 2008, o vinho premium da Villaggio Bassetti. As altitudes, em função do clima mais frio, acabam reduzindo naturalmente a produção de uvas. Além disso, em algumas variedades, a Villaggio Bassetti optou por plantar as videiras em alta densidade (cerca de 3.500 mudas por hectare, contra 2.000 mudas por hectare, como quantidade classificada como normal). Isso aumentou a competição entre as plantas, pela seiva bruta, e acabou colaborando na redução da produção de uvas por planta. Gerando frutas melhores.

As uvas Cabernet Sauvignon (foto de divulgação)

“É no campo que se faz o vinho”

“Nosso preceito é dar à uva tudo, no campo. E tirar tudo dela, na vinícola”, afirma José Eduardo Bassetti. “É no campo que se faz o vinho”, complementa Anderson Césaro, enólogo que responde pela produção dos vinhos da Villaggio Bassetti e pelo acompanhamento das videiras e das uvas no campo. O conceito da Villaggio Bassetti, segundo o próprio Eduardo, é cultivar boas uvas para buscar a máxima expressão dos frutos, na garrafa. Sem maquiagem.

Os vinhos das safras 2008, 2009 e 2010 foram vinificados por empresas parceiras. A vinícola própria da Villaggio Bassetti está na fase final de construção. Os vinhos da safra 2011 já serão vinificados na cantina da empresa. Uma vinícola boutique, que terá capacidade para produzir 120 mil garrafas/ano.

Os vinhos

O Villaggio Bassetti Sauvignon Blanc 2010 foi vinificado em tanques de inox, para valorizar o frescor e a aromaticidade da casta. O rosé Villaggio Bassetti 2010 também foi vinificado em inox, a partir de uvas Merlot e Pinot Noir, com o mesmo propósito. Já os tintos foram elaborados pelo chamado “sistema integral” ou girolate. Utilizado em algumas regiões da França, Argentina e Chile, no sistema girolate os vinhos são fermentados e envelhecidos em barricas de carvalho francês. Isso agrega complexidade e amacia os vinhos.

No caso da Villaggio Bassetti, o carvalho utilizado na produção dos tintos veio da floresta de Tronçais, uma das mais importantes para a produção de barricas, na França. As uvas foram colocadas dentro das barricas de 400 litros, dando início ao processo de fermentação. As barricas foram giradas periodicamente, para agitar as borras e aumentar a extração de cor, taninos e aromas presentes nas uvas. Encerrada a fermentação, os vinhos foram transfegados para outra barrica, para o amadurecimento. No caso do Primiero 2008, os vinhos permaneceram nas barricas por mais 22 meses. O Montepioli 2009 ficou mais 18 meses no carvalho, após o fim da fermentação.

Confira, abaixo, as notas de degustação dos vinhos.

Sauvignon Blanc Villaggio Bassetti 2010 - São Joaquim – Santa Catarina – Brasil.

100% Sauvignon Blanc. Álcool de 14%. Cor amarelo palha esverdeado, com boa luminosidade. Boa intensidade aromática, com notas lembrando cítricos (limão siciliano, lima da Pérsia), frutas de polpa branca, notas minerais e de ervas aromáticas. Agradável frescor e bom frutado, em boca. Álcool bem integrado ao conjunto olfativo/gustativo. Vai bem com saladas, ostras in natura, frutos do mar, mariscos ao bafo e sardinhas na brasa.

Villaggio Bassetti Rosé 2010 – São Joaquim – Santa Catarina – Brasil

Merlot (90%) e Pinot Noir (10%). Álcool de 13%. Cor rosa cobre, lembrando os rosados provençais. Vinho límpido e luminoso. Agradável ao nariz, com notas cítricas de pomelo e nêspera. Leve, macio e frutado em boca. Bom companheiro para canapés com ovas de salmão, sushi e sashimi, camarões ao alho e óleo e uma bela salada niçoise.

Montepioli 2009 – São Joaquim – Santa Catarina – Brasil

Vinho de entrada para os tintos da Villaggio Bassetti. Merlot e Cabernet Sauvignon. Álcool de 13%. Fermentado e envelhecido por 18 meses em barricas de carvalho francês de 400 litros, de segundo uso. Vinho de cor rubi-violácea, límpido. Nariz agradável, com aromas lembrando frutas vermelhas (ameixas frescas e framboesas), leve floral de violeta, uma nota vegetal remetendo ervas como o louro e toques de chocolate. Macio, em boca, com destacado frescor e taninos redondos, muito leves. Excelente companheiro para carnes grelhadas, costelinhas de porco na brasa, massas com molhos de tomate e carne, pratos com caças de pena (codorna, perdiz, pato), queijos de média maturação e um bom bacalhau.

Primiero 2008 – São Joaquim – Santa Catarina – Brasil

Vinho premium da Villaggio Bassetti. Álcool de 13,9%. Elaborado 100% com uvas Cabernet Sauvignon, pelo processo girolate, de fermentação em barricas novas de carvalhos francês de Troncais, de 400 lts. Estágio de 22 meses nas barricas novas, após a fermentação. Ao nariz, traz lembranças de notas de frutas vermelhas (ameixas frescas) e negras (mirtilos). Aromas de especiarias como a pimenta preta, tostados, notas terrosas, vegetais e de alcaçuz formam o leque aromático do vinho. Intenso, equilibrado e fresco em boca, com taninos maduros. Um vinho firme, que harmoniza bem com queijos maduros, filés com molhos encorpados, preparos com carnes de cordeiro e caças de pelo como o javali.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Empanadas, tango e vinhos



As saborosas empanadas do João de Barro

O tango é uma grande forma de expressão cultural argentina. Atrevido, sensual, irônico, drámatico são alguns dos adjetivos que podem ser usados para definir essa arte que conjuga música, dança e teatro. Um mergulho na alma argentina. Em Buenos Aires, um show de tango fica ainda melhor quando regado por bons vinhos e boa comida. Uma gostosa harmonia entre mesa, copo e arte.

O tango nasceu no final do século XIX, como resultado da fusão de ritmos trazidos ao novo mundo por imigrantes italianos e espanhóis. O gênero sofreu diversas influências musicais, fez a alegria em bordéis e chegou a Paris no início do século XX. Nas décadas de 1920 e 1930, Carlos Gardel levou o tango para outros países e popularizou esse estilo de música.

Na década de 1.950, Astor Piazzola entrou em cena. Ele revolucionou o tango, injetando na música influências clássicas e jazzísticas. Piazzola gerou polêmica ao romper com o tradicional. Foi idolatrado e criticado. Mas ajudou a agregar complexidade ao gênero. E apresentou um novo estilo ao mundo. Hoje, o tango continua presente na vida e na arte argentina. E nos espetáculos exibidos em Buenos Aires, a música e a dança são emolduradas pelo teatro.

Recentemente, em Buenos Aires, assisti a um espetáculo na casa Tango Porteño. Um palco imenso, orquestra impecável e um corpo de cantores e bailarinos de primeira. Antes do show, desfrutei de um saboroso jantar regado a vinhos Malbec. O menu começou com pães e pastas. Vieram, então, duas deliciosas empanadas de carne. E, a seguir, um belo bife de chorizo com batatas fritas. Por último a sobremesa, à base de frutas. Uma noite glamourosa e saborosa.

Os recheios podem ser de carne, frango, milho...

As empanadas, outro clássico

As empanadas são, assim como o tango, outro clássico argentino. Elas são oferecidas em cafés, lanchonetes e restaurantes. Podem ser servidas como refeição rápida ou como entrada de um almoço ou jantar. As empanadas têm receitas e ingredientes regionais. E podem ter múltiplos recheios. Aquelas com recheio de carne bovina, cebola, azeitonas, passas, ovos cozidos, páprica e pimenta são bem tradicionais. Assim como as de frango, milho e carne com cebola. De origem espanhola, esses preparos podem ser assados ou fritos. As empanadas são sempre comidas com as mãos, mesmo no início de uma refeição. Nunca com garfo e faca.

Apesar de serem classifcadas como petiscos, as empanadas têm uma estrutura considerável. Têm carne, cebola, manteiga, temperos verdes, especiarias, passas, azeitonas e ovos. Um conjunto que concentra sabores variados: tendência doce, tendência amarga, tendência salgada. E sensações táteis de untuosidade e até mesmo gordura. Assim, para a acompanhar empanadas de carne, podem ser escolhidos tintos com corpo médio, boa aromaticidade, boa acidez e taninos não muito marcantes, para limpar o paladar. Se as empanadas forem de pescados, um branco intenso, com passagem por barricas, bom frescor e teor alcóolico farão agradáveis casamentos.

As empanadas são companheiras do tango e de vinhos

Tango e empanadas no João de Barro

Em Florianópolis, é possível desfrutar das delicias do tango no restaurante João de Barro, no bairro do Cacupé, norte da Ilha. Ali, o grupo Capotango se apresenta unindo música, boa gastronomia e bons vinhos. Gustavo Lorenzo (voz, percussão e composição), Pablo Greco (bandonéon) e Pablo Lazarte (violão e baixo) formam o Capotango, cujo nome vem de capo, que significa chefe em italiano. E também tem o significado de mestre. No caso, Capotango, eles utilizaram a palavra capo para referir-se a mestre, expert em tango.

O Capotango está na estrada há dez. Já fez tournées pela Europa e outros países, além da Argentina. No João de Barro, os shows acontecem sempre acompanhados por empanadas. A receita é argentina, legítima. Quem comanda o preparo é a chef Diana Mabel. Segundo ela, tango e empanadas são companheiros naturais. Chamam a amizade, um bom papo, momentos agradáveis.

Tive o gosto de provar as empanadas ao som do tango tocado e cantado pelo Capotango, no João de Barro. Foi uma noite agradável, regada a dois vinhos argentinos: um Malbec DOC Nieto Senetiner 2008, de Luján de Cuyo, Mendoza, e um Merlot Saurus 2008, da região de San Patricio del Chañar, Neuquén, na Patagônia.

Dona Diana preparou pessoalmente a receita de empanadas. Uma receita de família. Aliás, são as receitas de família que fazem a fama do cardápio do João de Barro. Entre os pratos oferecidos pela casa está o solicitadíssimo Talharim João de Barro, feito com massa de crepe, creme de leite e queijo parmesão. O preparo é gratinado em forno e servido com frango ou filé. A Cazuela de Frutos do Mar, o Polvo à Galega, o Coelho ao Vinho do Porto e Rãs à Provençal são outras delícias do restaurante. Para agradar o gosto brasileiro, os pratos (exceção do talharim) são servidos com o arroz.

As empanadas e os vinhos

Na Argentina, o Malbec é um grande companheiro para as empanadas. Aliás, companheiro para quase tudo. Mas podem entrar outros vinhos. Um Syrah não tão estruturado, que vai bem com pratos com especiarias, pode ficar interessante. O Merlot, para as empanhadas mais leves, cai como uma luva. E um bom branco, um Chardonnay, por exemplo, pode escoltar empanadas com recheio de peixe.


Malbec

O Nieto Senetiner Malbec DOC 2008 é um 100% Malbec produzido com uvas de vinhedos de 45 anos. Com 13,5% de álcool, o vinho estagiou 12 meses em barricas de carvalho francês. O resultado é um vinho com notas de frutas maduras (figo, passas), especiarias e tabaco. O vinho tem bom frescor em boca e taninos macios.

Na harmonização com as empanadas, o Nieto Senetiner Malbec DOC 2008 refrescou a tendência amarga dos pimentões e do ovo. A boa aromaticidade e estrutura do vinho deram suporte ao conjunto de sabores formado pela carne, passas, azeitonas, a páprica e o cominho. Os taninos enxugaram a suculência do preparo e da mastigação. Foi um casamento bastante agradável.

Merlot

O Saurus Merlot 2007 mostrou tipicidade e surpreendeu pelo frescor e pela maciez. Um Merlot particular, resultado do casamento da casta com o terroir de San Patricio del Chañar, onde chove praticamente nada e os solos são ricos em carbonato de cálcio. Quarenta por cento deste Merlot estagiou quatro meses em barricas de carvalho francês e americano. No nariz o vinho mostrou boa fruta (ameixas, framboesa), notas mentoladas e lembranças de especiarias doces. Em boca, acidez deliciosa e taninos muito macios.

Na harmonização com as empanadas de carne, o Saurus Merlot 2007 refrescou o preparo, dando vivacidade ao conjunto. O frescor do vinho aplacou as notas com tendência amarga de alguns ingredientes. Os taninos enxugaram a suculência do preparo e, pode-se dizer, estenderam o tapete para a próxima mordida. Outra combinação bastante agradável.

Para conhecer mais sobre o restaurante João de Barro e o grupo Capotango acesse: www.joaodebarro.com.br e www.capotango.com.