quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Empanadas, tango e vinhos



As saborosas empanadas do João de Barro

O tango é uma grande forma de expressão cultural argentina. Atrevido, sensual, irônico, drámatico são alguns dos adjetivos que podem ser usados para definir essa arte que conjuga música, dança e teatro. Um mergulho na alma argentina. Em Buenos Aires, um show de tango fica ainda melhor quando regado por bons vinhos e boa comida. Uma gostosa harmonia entre mesa, copo e arte.

O tango nasceu no final do século XIX, como resultado da fusão de ritmos trazidos ao novo mundo por imigrantes italianos e espanhóis. O gênero sofreu diversas influências musicais, fez a alegria em bordéis e chegou a Paris no início do século XX. Nas décadas de 1920 e 1930, Carlos Gardel levou o tango para outros países e popularizou esse estilo de música.

Na década de 1.950, Astor Piazzola entrou em cena. Ele revolucionou o tango, injetando na música influências clássicas e jazzísticas. Piazzola gerou polêmica ao romper com o tradicional. Foi idolatrado e criticado. Mas ajudou a agregar complexidade ao gênero. E apresentou um novo estilo ao mundo. Hoje, o tango continua presente na vida e na arte argentina. E nos espetáculos exibidos em Buenos Aires, a música e a dança são emolduradas pelo teatro.

Recentemente, em Buenos Aires, assisti a um espetáculo na casa Tango Porteño. Um palco imenso, orquestra impecável e um corpo de cantores e bailarinos de primeira. Antes do show, desfrutei de um saboroso jantar regado a vinhos Malbec. O menu começou com pães e pastas. Vieram, então, duas deliciosas empanadas de carne. E, a seguir, um belo bife de chorizo com batatas fritas. Por último a sobremesa, à base de frutas. Uma noite glamourosa e saborosa.

Os recheios podem ser de carne, frango, milho...

As empanadas, outro clássico

As empanadas são, assim como o tango, outro clássico argentino. Elas são oferecidas em cafés, lanchonetes e restaurantes. Podem ser servidas como refeição rápida ou como entrada de um almoço ou jantar. As empanadas têm receitas e ingredientes regionais. E podem ter múltiplos recheios. Aquelas com recheio de carne bovina, cebola, azeitonas, passas, ovos cozidos, páprica e pimenta são bem tradicionais. Assim como as de frango, milho e carne com cebola. De origem espanhola, esses preparos podem ser assados ou fritos. As empanadas são sempre comidas com as mãos, mesmo no início de uma refeição. Nunca com garfo e faca.

Apesar de serem classifcadas como petiscos, as empanadas têm uma estrutura considerável. Têm carne, cebola, manteiga, temperos verdes, especiarias, passas, azeitonas e ovos. Um conjunto que concentra sabores variados: tendência doce, tendência amarga, tendência salgada. E sensações táteis de untuosidade e até mesmo gordura. Assim, para a acompanhar empanadas de carne, podem ser escolhidos tintos com corpo médio, boa aromaticidade, boa acidez e taninos não muito marcantes, para limpar o paladar. Se as empanadas forem de pescados, um branco intenso, com passagem por barricas, bom frescor e teor alcóolico farão agradáveis casamentos.

As empanadas são companheiras do tango e de vinhos

Tango e empanadas no João de Barro

Em Florianópolis, é possível desfrutar das delicias do tango no restaurante João de Barro, no bairro do Cacupé, norte da Ilha. Ali, o grupo Capotango se apresenta unindo música, boa gastronomia e bons vinhos. Gustavo Lorenzo (voz, percussão e composição), Pablo Greco (bandonéon) e Pablo Lazarte (violão e baixo) formam o Capotango, cujo nome vem de capo, que significa chefe em italiano. E também tem o significado de mestre. No caso, Capotango, eles utilizaram a palavra capo para referir-se a mestre, expert em tango.

O Capotango está na estrada há dez. Já fez tournées pela Europa e outros países, além da Argentina. No João de Barro, os shows acontecem sempre acompanhados por empanadas. A receita é argentina, legítima. Quem comanda o preparo é a chef Diana Mabel. Segundo ela, tango e empanadas são companheiros naturais. Chamam a amizade, um bom papo, momentos agradáveis.

Tive o gosto de provar as empanadas ao som do tango tocado e cantado pelo Capotango, no João de Barro. Foi uma noite agradável, regada a dois vinhos argentinos: um Malbec DOC Nieto Senetiner 2008, de Luján de Cuyo, Mendoza, e um Merlot Saurus 2008, da região de San Patricio del Chañar, Neuquén, na Patagônia.

Dona Diana preparou pessoalmente a receita de empanadas. Uma receita de família. Aliás, são as receitas de família que fazem a fama do cardápio do João de Barro. Entre os pratos oferecidos pela casa está o solicitadíssimo Talharim João de Barro, feito com massa de crepe, creme de leite e queijo parmesão. O preparo é gratinado em forno e servido com frango ou filé. A Cazuela de Frutos do Mar, o Polvo à Galega, o Coelho ao Vinho do Porto e Rãs à Provençal são outras delícias do restaurante. Para agradar o gosto brasileiro, os pratos (exceção do talharim) são servidos com o arroz.

As empanadas e os vinhos

Na Argentina, o Malbec é um grande companheiro para as empanadas. Aliás, companheiro para quase tudo. Mas podem entrar outros vinhos. Um Syrah não tão estruturado, que vai bem com pratos com especiarias, pode ficar interessante. O Merlot, para as empanhadas mais leves, cai como uma luva. E um bom branco, um Chardonnay, por exemplo, pode escoltar empanadas com recheio de peixe.


Malbec

O Nieto Senetiner Malbec DOC 2008 é um 100% Malbec produzido com uvas de vinhedos de 45 anos. Com 13,5% de álcool, o vinho estagiou 12 meses em barricas de carvalho francês. O resultado é um vinho com notas de frutas maduras (figo, passas), especiarias e tabaco. O vinho tem bom frescor em boca e taninos macios.

Na harmonização com as empanadas, o Nieto Senetiner Malbec DOC 2008 refrescou a tendência amarga dos pimentões e do ovo. A boa aromaticidade e estrutura do vinho deram suporte ao conjunto de sabores formado pela carne, passas, azeitonas, a páprica e o cominho. Os taninos enxugaram a suculência do preparo e da mastigação. Foi um casamento bastante agradável.

Merlot

O Saurus Merlot 2007 mostrou tipicidade e surpreendeu pelo frescor e pela maciez. Um Merlot particular, resultado do casamento da casta com o terroir de San Patricio del Chañar, onde chove praticamente nada e os solos são ricos em carbonato de cálcio. Quarenta por cento deste Merlot estagiou quatro meses em barricas de carvalho francês e americano. No nariz o vinho mostrou boa fruta (ameixas, framboesa), notas mentoladas e lembranças de especiarias doces. Em boca, acidez deliciosa e taninos muito macios.

Na harmonização com as empanadas de carne, o Saurus Merlot 2007 refrescou o preparo, dando vivacidade ao conjunto. O frescor do vinho aplacou as notas com tendência amarga de alguns ingredientes. Os taninos enxugaram a suculência do preparo e, pode-se dizer, estenderam o tapete para a próxima mordida. Outra combinação bastante agradável.

Para conhecer mais sobre o restaurante João de Barro e o grupo Capotango acesse: www.joaodebarro.com.br e www.capotango.com.

Um comentário:

  1. Wow... culinária argentina é tudo de BOM!!!

    Aqui em sampa eu já fui na Parrilla Mister Tango, do ladinho do aeroporto de Congonhas na Av. Dr. Lino de Moraes Leme, 185, é apertadinho, tem show de tango em dias certos, mas a comida é muito bem feita e saborosa, inclusive as empanadas.
    Em BsAs eu conferi o Madero Tango, espetacular em todos os sentidos!

    Baruki!

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