A 21
Avaliação Nacional de Vinhos, realizada pela Associação Brasileira de Enologia - ABE, em Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul,
no último dia 28 de setembro, marcou mais uma edição da grande festa do vinho
brasileiro. Novamente, 16 amostras de vinhos, as mais representativas, neste
caso, da safra 2013, foram comentadas por jurados de diversas nacionalidades e
degustadas por uma platéia de 850 enófilos presentes ao evento. O resultado
premiou vinícolas produtoras desses e de outros 76 vinhos que compuseram a
fatia de 30% dos rótulos seleciodas por 120 enólogos, dentre as 309 amostras
enviadas para a Avaliação. Um trabalho envolvendo profissionais e muito
profissionalismo.
Olhando
dentro do suceder dos anos, essa foi mais uma Avaliação Nacional. Ela aconteceu
como todas as demais edições. Em Bento Gonçalves, com muita festa, encontros,
degustações, jantares. Nos campos e vinhedos, ao redor, com as videiras começando a
soltar seus brotos e os pequenos cachos, ainda frágeis, mas já anunciando o
advento da nova safra, dos futuros vinhos, da avaliação do ano seguinte. A
continuidade, os fatos futuros, o movimento da vitivinicultura.
No entanto,
algo simbólico estava no ar, nessa Avaliação. Ela foi a 21. E no Brasil, o
número 21 representa a maioridade. Portanto, é possível traçar um simbolismo
entre esse número e o estágio em que se encontra a vitivinicultura brasileira,
pelo menos a do Rio Grande do Sul, estado que responde por 90% de toda a produção
nacional de vinhos. Uma atividade que teve início há mais de 140 anos, com a vinda dos
imigrantes italianos para o Brasil. Que ganhou impulso, com a chegada de empresas estrangeiras, a partir da década de 1970. E que se consolidou com
o envolvimento e o trabalho de
famílias de descendentes dos imigrantes italianos, que passaram a produzir
vinhos finos num passado mais recente, de 30 anos para cá. Esses brasileiros,
de sobrenomes italianos, acreditaram que poderiam elaborar vinhos de qualidade
nos terrenos que herdaram de seus avós e bisavós. Compraram mudas importadas,
equipamentos modernos e tecnologia de ponta. Foram estudar agronomia e enologia.
Rodaram o Brasil, falando de seus sonhos e mostrando seus vinhos.
No início
da década de 2000, o espumante ganhou força no cenário vitivinícola da serra
gaúcha. O vinho tinto, o preferido do brasileiro, ficou um pouco de lado. O terroir da serra beneficiava a produção
de espumantes, diziam experientes enólogos como Mário Geisse e Adolfo Lona. E,
para a tristeza e inconformismo de muitos, penalizava as uvas e os vinhos tintos.
Os vitivinicultores aceitaram o fato. A produção de espumantes cresceu. Na
média, os espumantes brasileiros têm excelente relação custo x benefício. Eles
mostraram grande competitividade ao lado de produtos importados em faixa de
preço semelhante e até mesmo um pouco superior. Apenas o Champagne continuou
acima da disputa desse mercado, com sua áurea majestosa.
Mas os
vitivinicultores não desistiram dos tintos. Mudaram os métodos de condução das
videiras, plantaram em espaldeira, reduziram o rendimento de uvas, renderam-se
às castas mais apropriadas à adversidade climática da serra gaúcha, partiram atrás de outras regiões, no estado, como a Campanha. E foram
buscando tintos melhores, mais cheios, com acidez equilibrada, taninos sedosos,
bom corpo. Reduziram o uso da barrica,
valorizaram a fruta, aprenderam com o mundo, os próprios erros e o terroir.
A Avaliação
Nacional de Vinhos, no ano em que completou 21 anos, mostrou que o
Brasil vitivinícola melhorou, de um modo geral. E muito. Os espumantes estão
consolidados como uma bebida, neste momento, com a cara do Brasil: frescos,
tropicais, contagiantes por seus agradáveis aromas de frutas e flores. Os
vinhos tintos mostraram que não se resumem apenas à Cabernet Sauvignon. Hoje
eles se apresentam com nomes de Merlot (a uva emblemática do Vale dos Vinhedos), Tannat, Marselan, Teroldego, Ancelotta e até mesmo Malbec, que prospera nos campos da vizinha Argentina. E os cortes começam a despontar em meio aos varietais.
O Brasil
vitivinícola está mais maduro. Os produtores têm consciência daquilo que podem
fazer, onde podem melhorar, dos limites a respeitar. E trabalham dentro disso.
Os enólogos vestiram o terroir. Conhecem
melhor, hoje, o solo (e realizam estudos para conhecer as diversas parcelas de solos da serra gaúcha) do qual brotam as parreiras que geram as
uvas com as quais fazem seus vinhos. Nas cantinas, interferem – principalmente
nos produtos de gama superior – sem mascarar o que veio do campo: deixam as
uvas mostrarem para onde deve ir o processo e conduzem a vinificação para os
melhores vinhos possíveis.
Os vinhos
brasileiros, espumantes, brancos, rosados e tintos, estão, indubitavelmente,
cada vez melhores. São vinhos frescos, com boa fruta, boa acidez, taninos mais
agradáveis. Vinhos ao estilo europeu, gastronômicos. Resultam de uma
viticultura e de uma enologia mais maduras. É fato que eles ainda podem e devem
melhorar, sempre. É um processo longo e interminável, não há limites. O limite é a
colheita de um cacho. E tudo reinicia e novas perspectivas se abrem com a brotação, o nascimento de um novo
cacho. É o movimento de séculos, desde que o vinho começou a ser produzido pelo
homem.
Os
brasileiros acreditam mais, hoje, nos vinhos de seu país. Mas ainda há
preconceito. É fato que, às vezes, dentro de uma determinada faixa de preço, um
vinho importado pode ser mais encorpado ou estruturado que um nacional. Mas o
inverso também ocorre. Há vinhos brasileiros que, dentro de um patamar de
valores, apresenta características às vezes mais interessantes que um vinho
importado, mais fruta, mais frescor. Degustações às cegas provam isso. E muitas vezes provocam
perplexidade.
O Brasil
está firmando seus estilos de vinhos. No Rio Grande do Sul, os espumantes são
tropicais, frutados e florais, na média. E alguns são mais estruturados,
intensos. Os vinhos brancos são frescos, de corpo leve a médio, frutados e com bons
aromas. E há os que passam por barricas, ganham estrutura e maior intensidade
aromático/gustativa. Os tintos, na média, são frutados, têm notas de especiarias. Em boca, apresentam boa acidez, corpo agradável, taninos gostosos,
às vezes doces. Alguns tintos, resultado de cortes, são surpreendentes. Isso foi o que se
viu nessa 21 Avaliação Nacional de Vinhos. Um produto nacional com estilo e qualidade. Um produto que nos 30 anos de sua história mais recente evolui muito, muito mais do que isso.
Os Vinhos mais Representativos da Safra 2013
* Vinho Base para Espumante de Pinot Noir - Cave Geisse
* Vinho Base para Espumante de Riesling Itálico / Chardonnay / Pinot Noir - Chandon do Brasil
* Vinho Base para Espumante de Chardonnay - Casa Valduga Vinhos Finos Ltda
* Riesling Itálico - Cooperativa Vinícola Aurora Ltda
* Chardonnay - Cooperativa Vinícola Nova Aliança Ltda
* Chardonnay - Vinícola Góes & Venturini Ltda
* Chardonnay - Luiz Argenta Vinhos Finos Ltda
* Sauvignon Blanc - Vinícola Miolo Ltda
* Cabernet Franc - Vinícola Salton S.A.
* Teroldego - Vinícola Monte Rosário - Vinhos Rotava
* Teroldego - Vinícola Don Guerino Ltda
* Merlot - Vinícola Perini Ltda
* Merlot - Bueno Bellavista Estate
* Malbec - Vinícola Almaúnica Ltda
* Marselan - Vinícola Dom Cândido Ltda
* Cabernet Sauvignon - Rasip Agropastoril S.A.
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