sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Sauvignon Blanc, a uva emblemática das altitudes de Santa Catarina



A Sauvignon Blanc gera vinhos de qualidade nas regiões de altitude de Santa Catarina. Produtos com tipicidade, vinhos frescos e frutados, com aromas tropicais e agradáveis notas herbáceas. A variedade conquistou os produtores, adaptou-se muito bem à região e está gerando vinhos com perfil intimamente ligado aos terroirs de altitude. Por isso, é possível afirmar que a Sauvignon Blanc está assumindo o posto de uva emblemática das altitudes catarinenses. Se não de modo geral, pelo menos no departamento das castas brancas. Sucesso no campo e nas garrafas, ela agora conquista os consumidores. Provamos seis rótulos do Sauvignon Blanc de Santa Catarina. Vinhos perfeitos para o verão e para a culinária do mar.


(Foto - João Lombardo)

Núbio Sauvignon Blanc Sanjo 2013 – São Joaquim – SC
Cor palha clara, límpida, luminosa. Gostoso equilíbrio entre fruta e notas vegetais. Agradáveis aromas verdes, arruda, folha de tomate; notas cítricas e de frutas brancas, limão siciliano. Gostoso em boca, acidez suculenta. 


(Foto - João Lombardo)

Quinta da Neve Sauvignon Blanc 2015 – São Joaquim - SC
Cor palha claro, límpido, reflexivo. Aromas herbáceos. Nariz com notas lembrando arruda e folha de tomate. Leve toque cítrico, frutado discreto, fruta branca. Intenso em boca, acidez frutada, nota verde também no paladar. 


(Foto - João Lombardo)

Pericó Vigneto Sauvignon Blanc 2014 – São Joaquim - SC
Cor palha esverdeada, límpido, luminoso. Bastante frutado. Nariz rico em frutas tropicais e cítricos, maracujá, frutas brancas, tutti-frutti; Discreta nota aromática verde, aspargos. Fresco, acidez gostosa, frutado e cítrico no paladar.


(Foto João Lombardo)

Villaggio Bassetti Sauvignon Blanc 2014 – São Joaquim – SC
Cor palha esverdeada, límpida e luminosa. Frutado, tropical. Aromas cítricos, salada de frutas, papaia, melão, pera. Lembrança mineral. No paladar, acidez equilibrada, maciez e untuosidade. 


(Foto - João Lombardo)

Suzin Sauvignon Blanc 2013 – São Joaquim – SC
Cor palha clara, límpido, luminoso. Aromas cítricos, de frutas brancas, pera. Leve nota verde de arruda, toque de pimenta branca. Boca fresca, acidez firme.



(Foto - João Lombardo) 

Villaggio Grando Sauvignon Blanc 2014 – Água Doce - SC
Cor palha esverdeada, límpida. Aromas cítricos, limão siciliano, frutas brancas, pera madura. Paladar fresco, acidez firme.  


Premiações 

Dois desses vinhos já foram premiados com o Top Ten da Expovinis, a maior feira de vinhos da América Latina, realizada anualmente em São Paulo. Em 2009, o Sanjo Núbio Sauvignon Blanc 2008 ganhou o Top Top da Expovinis na categoria branco nacional. O Pericó Vigneto conseguiu dupla vitória na Expovinis: em 2014, levou o Top Ten branco nacional da feira, com a safra 2013; em 2015, repetiu o feito, com a safra 2014. O Núbio Sauvignon Blanc, nas safras 2011 e 2012, também conquistou a medalha de Ouro no Concurso Mundial de Bruxelas edição Brasil. O Sauvignon Blanc Quinta da Neve 2011 conquistou o Ouro no mesmo concurso, em 2012. O Suzin 2012 foi contemplado com medalha de Prata no Concurso Mundial de Bruxelas de 2013. O Quinta da Neve 2014 levou Prata em 2015. Esses prêmios reafirmam a força dos vinhos de Sauvignon Blanc produzidos nas altitudes de Santa Catarina.


Sauvignon, o companheiro da culinária do mar 

O Sauvignon Blanc harmoniza com ingredientes e pratos litorâneos. Vai bem com ostras in natura; mexilhões ao bafo e à vinagrete; camarões e lulas à dorè e à milanesa; peixes gordos grelhados, fritos e assados (anchova, tainha, sardinha); preparos com polvo, vieras, siri e berbigão; massas e risotos com frutos do mar. Harmoniza com peixes de rio, a tilápia e a truta, e preparos com molhos como o pesto de manjericão e de rúcula. Saladas de folhas e queijos frescos são outros grandes companheiras para o versátil e refrescante Sauvignon Blanc.


sexta-feira, 10 de abril de 2015

Diga sim às sardinhas


 (Foto João Lombardo)

Sardinhas são saborosas e polêmicas. Conheço pouca gente que resistiria a uma sardinha assada na brasa, regada com um refrescante copo de vinho Verde ou uma cerveja gelada. Todo mundo adora. No entanto, algumas pessoas se sentem envergonhadas de confessar que adoram sardinhas. Muitas acham um peixe barato, popular, com pouco charme, que gera pratos simples. Preferem polir o português e dizer que gostam de robalo, linguado, cherne, congrio, salmão, e por aí vai.

A sardinha, de fato, é um peixe popular. Quando eu era menino e morava no interior de São Paulo, duas vezes por semana passava na minha rua uma caminhonete com a carroceria lotada de sardinhas mergulhadas em gelo. Minha mãe comprava religiosamente nas duas vezes semanais que o veículo passava. E nossa família se deliciava com esse peixe, rico em sabor e gordura boa, versátil e capaz de compor tantas receitas simples e deliciosas.

Um preparo simples e irresistível eram as sardinhas na brasa. No domingo, meu pai acendia o fogo na churrasqueira e assava as sardinhas, temperadas apenas com sal. Minha mãe tirava as espinhas e comíamos os peixes com gosto e prazer. Elas eram tostadas e tinham um leve sabor defumado. Minha também costumava enfarinhar as sardinhas, abertas em forma de borboleta, e fritá-las em azeite de oliva. Nesse caso, o sabor puxava para a tendência doce e frutada do azeite. Era muito bom!

Um preparo clássico da minha família eram as “Sardinhas com Polenta”. Minha mãe abria as sardinhas em forma de borboleta. Numa panela de fundo grosso, regava um pouco de azeite, cobria com rodelas de cebola e tiras de pimentão vermelho. Sobre essa cama, repousava algumas sardinhas, que eram cobertas com fatias de tomate fresco, ervas aromáticas, azeitonas, pimenta vermelha fatiada e alguns dentes de alho. Novamente entrava a cebola, os pimentões, as sardinhas, os tomates etc. Por último, cerca de 100 ml de vinagre, sal e pelo menos o dobro de azeite de oliva. O preparo ia para o fogo brando e cozinhava por cerca de 1 hora e meia a 2 horas. Paralelamente minha mãe preparava uma polenta firme.

Na hora de servir, os cubos de polenta eram acomodados no centro de um prato. Em cima entrava aquilo que se transformava num verdadeiro creme de sardinhas. O peixinho cozinhava até praticamente desmanchar. E aquele “molho” regava a polenta amarela, levando ao paladar um conjunto de sabores mediterrâneos, simples e plenos. Muito bom.

O cuscuz de sardinhas também era um clássico de minha casa. As sardinhas eram cozidas em azeite e temperos, quase um confit. Elas eram acomodadas nas laterais de uma forma de pudim. E aí a massa de farinha de milho untuosa e bem temperada cobria as sardinhas. Ao ser desenformado, o cuscuz exalava um perfume maravilhoso, irresistível. Devorá-lo em fatias, com as próprias mãos, era um prazer indescritível.

Mais tarde passei a fazer minhas próprias receitas com sardinhas. Uma delas foi um Spaghetti alle Sarde, na verdade não uma receita exclusiva, mas um clássico italiano. Uma massa coberta com sardinhas puxadas em frigideira com cebolas, anchovas, erva doce fresca e pinoli, entre outros ingredientes. Também desenvolvi pratos contemporâneos, como uma bruschetta coberta com sardinha empanada e molho cremoso de limão.

 (Foto de João Lombardo)

Decidi escrever sobre a sardinha devido a um fato curioso. Costumo postar em minha página do Facebook pratos que comi em minhas viagens. E postei, esta semana, fotos de sardinhas na brasa, que comi em Portugal, numa viagem para visitar a região do Douro. Fiquei impressionado com o número de curtidas, uma das postagens mais acessadas da história de minha página. E isso inspirou-me a escrever sobre o peixinhinho popular, barato, mas muito, muito saboroso. Um ingrediente que, seguramente, precisa ser melhor explorado pelos restaurantes de comida do mar. Um exemplo de como o preconceito pode privar os paladares de sabores tão ricos e reconfortantes.

Dica: pratos à base de sardinhas vão bem com vinhos brancos frescos. O primeiro a se apresentar é o Vinho Verde, da região portuguesa do Minho. O Alvarinho é outro excelente companheiro. Brancos de Sauvignon Blanc, Pinot Grigio, Grillo e Inzolia, Viúra, Riesling e Chenin Blanc.    

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

La Poja e os vinhos de Valpolicella


A Villa della Torre, da família Allegrini (foto João Lombardo)

A Corvina Veronese é uma das principais uvas autóctones italianas. É uma variedade da região do Vêneto. Uma casta muito versátil, que gera vinhos em vários estilos, dos mais leves, como o popular Bardolino, passando pelos Valpolicellas e chegando aos grandiosos Amarones. E também o doce Reciotto di Amarone della Valpolicella. Recentemente tive a oportunidade de provar um cru feito com a Corvina, o La Poja Allegrini IGT 2008.

O grupo Allegrini possui quatro empresas e 240 hectares de vinhedos distribuídos entre o Vêneto e Toscana. Visitei a Villa della Torre, em Fumane di Valpolicella, a 15 quilômetros de Verona. Ali, tive o prazer de provar o La Poja 2008, o  Palazzo della Torre 2010 e o Amarone della Valpolicella 2010, cujas notas de prova aparecem abaixo.  Provamos também o o Valpolicella clássico 2012, um vinho agradável, bom para o copo e para a mesa italiana. A degustação foi acompanhada por fiambres, queijos e pães típicos da região. A recepção foi muito agradável.

La Poja


O La Poja é um vinho feito 100% com uvas Corvina Veronese colhidas na parte mais alta do vinhedo La Grola, em Sant’Abrogio di Valpolicella, província de Verona. A área do vinhedo é de 2,65 hectares. As videiras estão plantadas na colina, sobre um solo de puro calcário (78,5%), na porção La Poja. Este é o vinho ícone da Allegrini. Vale lembrar que esse não é o único cru da empresa. A Allegrini aposta em terrois específicos e produz outros crus. Entre eles o Palazzo della Torre e o La Grola.

O La Poja 2008 foi vinificado em inox e passou 20 meses em barricas novas de carvalho francês. É um vinho longevo, com capacidade de guarda de 20 anos, segundo o produtor.

No copo, ele justifica a fama. Do líquido de cor rubi luminoso brotam aromas de frutas negras maduras, com destaque para a cereja escura. Revelam-se também notas de especiarias doces, ervas aromáticas, couro, algo mineral e balsâmico. Um vinho bastante complexo, delicado, que aos poucos vai revelando suas camadas aromáticas. A boca revela excelente corpo e frescor, uma acidez deliciosa. Os taninos são presentes e redondos, o final longo.

Esse é um vinho emblemático do Vêneto. Um grande companheiro para queijos de média maturação, pratos de carne, inclusive cordeiro e caças de pelo, molhos encorpados, receitas com funghi.

Palazzo della Torre


Provamos também o  Palazzo della Torre, outro cru da Allegrini. Esse vinho é produzido na Villa della Torre, um complexo renascentista do século XVI, com um belo pátio interno inspirado na arquitetura romana. Tive o prazer de provar os vinhos naquele local histórico e contagiante de propriedade da família Allegrini.

O Palazzo della Torre Vernonese IGT 2010 é um ripasso (vinho com duas fermentações) elaborado 70% com Corvina Veronese, 25% Rondinella e 5% Sangiovese. A primeira fermentação acontece com 70% das uvas, estas frescas, colhidas no final de setembro. A segunda fermentação é realizada com 30% de Corvina em passa, depois de terminada a primeira fermentação. Encerrado o processo, o vinho segue para barricas de carvalho francês de segundo uso, para um estágio de 15 meses.

O resultado é um vinho de cor rubi com halos violáceos, aromas de cerejas e frutas negras maduras, especiarias doces, lembranças balsâmicas remetendo a louro e menta, alcaçuz. A boca é fresca e sápida, com agradável corpo e equilíbrio, frescor gostoso, taninos presentes e elegantes. Um vinho para receitas da culinária italiana e internacional à base de carnes, queijos maduros, massas com molhos encorpados, como o ragù.

Amarone


O Amarone della Valpolicella Classico DOC 2009 também foi incluído na degustação. O Amarone é o grande vinho da região de Valpolicella. E esse da Allegrini é sempre uma referência. As uvas, plantadas nas encostas das colinas da zona do Valpolicella Classico, estão sobre um solo rico em calcário. O vinho foi elaborado com 80% de uvas Corvina Veronese, 15% de Rondinella e 5% de Oseleta. Para secarem, os cachos são levados para salas especiais (frutaio) e colocados sobre esteiras. As uvas passam por um processo de desidratação, no qual perdem entre 40% e 45% de líquido e peso. Com isso, concentram ácidos, açúcares e taninos. As uvas-passas são fermentadas e o vinho gerado estagia por 18 meses em barricas novas de carvalho francês.

O resultado é um vinho potente, com 15,8% de álcool, cor rubi violácea intensa, notas aromáticas de frutas negras maduras, frutas em passa, geléia, chocolate, chá preto, alcaçuz, especiarias em geral, toque mineral. A boca é potente, fresca e sápida, os taninos, marcantes e elegantes, o final é longo. O Amarone é um vinho com uma legião de fiéis. Particularmente, sou fã do Amarone

Esse vinho é ideal para acompanhar pratos intensos e encorpados de massas, carnes (inclusive cordeiro e caças de pelo), queijos maduros e até mesmo uma brasileiríssima feijoada.

O Amarone é um dos tripés da enologia italiana. Um dos vinhos de meditação italianos, para se apreciar e beber em paz. E, vendo seu reflexo na superfície do vinho, pensar nas coisas boas da vida.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Posip, um vinho da terra de Marco Polo




Bebidas e preparos culinários costumam estar rodeados de história. E também de histórias, umas mais interessantes, outras simples. É o caso do vinho. A macro história do vinho é fascinante. Ela pode ser comparada a um grande guarda-chuvas que abriga centenas/milhares de pequenas histórias.

Pude vivenciar uma dessas pequenas histórias dia desses, quando tomei um agradável vinho branco da Croácia, o Posip Cara 2013, feito com a uva autóctone Posip. Um vinho da ilha de Korcula, costa da Dalmácia, no mar Adriático, elaborado com uvas do vinhedo Cara pela “Posip” Cooperativa Agrícola. Uma área com indicação protegida, cravada na ilha apontada por historiadores como o possível lugar de nascimento do navegador Marco Polo.

Peguei a garrafa com uma boa dose de expectativa e um toque de ceticismo. Costumo ter esses dois sentimentos quando olho o rótulo de um vinho que desconheço. Vinho é expectativa. E antes de abri-lo, começo a imagina-lo. O que me espera? Um grande vinho, um vinho cotidiano, um vinho diferente? Isso é fascinante. O Posip Cara 2013 é feito com a casta branca Posip. Gosto das uvas autóctones. Elas são identificadas com áreas únicas de produção. E geram vinhos igualmente únicos. A Posip foi considerada durante muito tempo uma uva secundária. Mas teve seu valor reconhecido e hoje é vista como uma branca notável, a partir de seu país de origem.

A vitivinicultura, na Croácia, foi implantada pelos gregos há cerca de 3 mil anos. O período coincide com a vitivinicultura grega no sul da Itália, no território da Enotria. São países vizinhos. Outros povos habitaram a região: ilírios, romanos, godos e bizantinos. O vinhedo de Cara está localizado a 3 quilômetros do mar e goza de um clima mediterrâneo, com invernos frios, primaveras às vezes chuvosas, verões longos e quentes e outonos frescos. É nesse cenário que a Posip frutifica.

Outra uva autóctone croata, esta tinta, é a Plavac-Mali, um cruzamento natural da Crljenak Kastelanski (Zinfandel) com a casta Dobricik. Uma variedade que gera vinhos complexos e estruturados, que hoje começam a ganhar e conquistar apreciadores da bebida pelo mundo.

Depois de me informar sobre esse contexto, cravei o saca-rolhas na cortiça e comecei meu ritual de abertura do Posip Cara 2013. Estava na hora de desvendar o vinho. Tirei a cortiça, de boa qualidade, e servi uma pequena dose no copo. A cor mostrou-se atraente, um amarelo já com notas douradas, o aspecto límpido e brilhante. Gostei. Os aromas foram se revelando. Primeiro, notas frutadas de pêssego e damascos. Em seguida, agradáveis aromas cítricos, inclusive um cítrico doce, lembrando limão confitado. Ao fundo, uma sutil nota verde. E, por último, notas amendoadas. Um vinho de perfumes agradáveis.

A boca confirmou o nariz e mostrou-se fresca, frutada e cítrica. O vinho revelou untuosidade no paladar, uma conjugação de frescor e maciez. As notas amendoadas do nariz confirmaram-se no final de boca. Um vinho de persistência média/longa, bastante agradável, equilibrado e harmônico.

Combinei o Posip Cara 2013 com um suculento e perfumado spaghetti ai frutti di mare. Um casamento sem risco de erro. Ficou delicioso. Aromaticidades compatíveis e limpeza perfeita do paladar. Este é um vinho sinérgico aos preparos com pescados e frutos do mar. Um vinho para o verão, para o clima e receitas litorâneas brasileiras.

Fiquei satisfeito. Descobri um novo vinho, de uma uva autóctone. Mergulhei em mais um pequeno espaço do macrocosmo vitivinícola. E tive o prazer de saborear não apenas a bebida, mas também sua história e particularidades. Algo que tornou o rótulo, sem dúvida alguma, mais interessante. Minha maneira particular de provar e buscar conhecer um pouco mais da cultura desse e outros vinhos. Um prazer além do rótulo.