A Villa della Torre, da família Allegrini (foto João Lombardo)
A Corvina Veronese é uma das
principais uvas autóctones italianas. É uma variedade da região do Vêneto. Uma casta muito versátil, que gera vinhos em vários
estilos, dos mais leves, como o popular Bardolino, passando pelos Valpolicellas
e chegando aos grandiosos Amarones. E também o doce Reciotto di Amarone della
Valpolicella. Recentemente tive a oportunidade de provar um cru feito com a Corvina, o La Poja
Allegrini IGT 2008.
O grupo Allegrini possui
quatro empresas e 240 hectares de vinhedos distribuídos entre o Vêneto e
Toscana. Visitei a Villa della Torre, em Fumane di Valpolicella, a 15
quilômetros de Verona. Ali, tive o prazer de provar o La Poja 2008, o Palazzo della Torre 2010 e o Amarone della
Valpolicella 2010, cujas notas de prova aparecem abaixo. Provamos também o o Valpolicella clássico
2012, um vinho agradável, bom para o copo e para a mesa italiana. A degustação
foi acompanhada por fiambres, queijos e pães típicos da região. A recepção foi
muito agradável.
La Poja
O La Poja é um vinho feito
100% com uvas Corvina Veronese colhidas na parte mais alta do vinhedo La Grola,
em Sant’Abrogio di Valpolicella, província de Verona. A área do vinhedo é de 2,65
hectares. As videiras estão plantadas na colina, sobre um solo de puro
calcário (78,5%), na porção La Poja. Este é o vinho ícone da Allegrini. Vale
lembrar que esse não é o único cru
da empresa. A Allegrini aposta em terrois
específicos e produz outros crus. Entre
eles o Palazzo della Torre e o La
Grola.
O La Poja 2008 foi vinificado
em inox e passou 20 meses em barricas novas de carvalho francês. É um vinho
longevo, com capacidade de guarda de 20 anos, segundo o produtor.
No copo, ele justifica a
fama. Do líquido de cor rubi luminoso brotam aromas de frutas negras maduras,
com destaque para a cereja escura. Revelam-se também notas de especiarias
doces, ervas aromáticas, couro, algo mineral e balsâmico. Um vinho bastante
complexo, delicado, que aos poucos vai revelando suas camadas aromáticas. A boca revela excelente corpo e frescor, uma acidez deliciosa. Os taninos são presentes e
redondos, o final longo.
Esse é um vinho
emblemático do Vêneto. Um grande companheiro para queijos de média maturação,
pratos de carne, inclusive cordeiro e caças de pelo, molhos encorpados,
receitas com funghi.
Palazzo della Torre
Provamos também o Palazzo della Torre, outro cru da Allegrini. Esse vinho é produzido na
Villa della Torre, um complexo renascentista do século XVI, com um belo pátio interno
inspirado na arquitetura romana. Tive o prazer de provar os vinhos naquele local
histórico e contagiante de propriedade da família Allegrini.
O Palazzo della Torre
Vernonese IGT 2010 é um ripasso (vinho
com duas fermentações) elaborado 70% com Corvina Veronese, 25% Rondinella e 5%
Sangiovese. A primeira fermentação acontece com 70% das uvas, estas frescas,
colhidas no final de setembro. A segunda fermentação é realizada com 30% de
Corvina em passa, depois de terminada a primeira fermentação. Encerrado o
processo, o vinho segue para barricas de carvalho francês de segundo uso, para
um estágio de 15 meses.
O resultado é um vinho de cor
rubi com halos violáceos, aromas de cerejas e frutas negras maduras,
especiarias doces, lembranças balsâmicas remetendo a louro e menta, alcaçuz. A
boca é fresca e sápida, com agradável corpo e equilíbrio, frescor gostoso,
taninos presentes e elegantes. Um vinho para receitas da culinária italiana e
internacional à base de carnes, queijos maduros, massas com molhos encorpados,
como o ragù.
Amarone
O Amarone della Valpolicella
Classico DOC 2009 também foi incluído na degustação. O Amarone é o grande vinho
da região de Valpolicella. E esse da Allegrini é sempre uma referência. As
uvas, plantadas nas encostas das colinas da zona do Valpolicella Classico,
estão sobre um solo rico em calcário. O vinho foi elaborado com 80% de uvas
Corvina Veronese, 15% de Rondinella e 5% de Oseleta. Para secarem,
os cachos são levados para salas especiais (frutaio)
e colocados sobre esteiras. As uvas passam por um processo de desidratação, no
qual perdem entre 40% e 45% de líquido e peso. Com isso, concentram ácidos, açúcares e taninos. As uvas-passas são fermentadas e o
vinho gerado estagia por 18 meses em barricas novas de carvalho francês.
O resultado é um vinho
potente, com 15,8% de álcool, cor rubi violácea intensa, notas aromáticas de
frutas negras maduras, frutas em passa, geléia, chocolate, chá preto, alcaçuz,
especiarias em geral, toque mineral. A boca é potente, fresca e sápida, os
taninos, marcantes e elegantes, o final é longo. O Amarone é um vinho com
uma legião de fiéis. Particularmente, sou fã do Amarone
Esse vinho é ideal para
acompanhar pratos intensos e encorpados de massas, carnes (inclusive cordeiro e
caças de pelo), queijos maduros e até mesmo uma brasileiríssima feijoada.
O Amarone é um dos tripés da
enologia italiana. Um dos vinhos de meditação italianos, para se apreciar e beber
em paz. E, vendo seu reflexo na superfície do vinho, pensar nas coisas boas da
vida.
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