sábado, 5 de outubro de 2013

Septimum, o novo corte tinto da Salton


A vinícola Salton já engarrafou seu novo vinho de corte, o Septimum, um tinto elaborado com uvas da safra 2011. O vinho é o mais novo integrante do vasto portfólio da empresa centenária e integra o restrito rol dos vinhos de corte do Rio Grande do Sul. Um produto intenso, estruturado, com promessa de longevidade. Em viagem àquele estado, para participar da 21 Avaliação Nacional de Vinhos, realizada no dia 28 de setembro último, pude provar outro vinho de corte, também de excelente estrutura: o Perini Qu4tro 2009.

O Septimum foi apresentado pelo enólogo Lucindo Copatti e pelo presidente da empresa, Daniel Santon, durante visita de um grupo de jornalistas à vinícola, em Bento Gonçalves. O nome do vinho vem do fato dele ser elaborado com sete castas: Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc, Tannat, Marselan, Teroldego e Ancellotta. O corte é resultado do encontro de castas tradicionais com as novas uvas que frutificam nos terroirs do Rio Grande do Sul. Para aumentar a complexidade, o vinho foi fermentado e estagiou 18 meses em barricas de carvalho. No dia 27 de setembro, quando o vinho foi apresentado, fazia 15 dias que ele havia sido engarrafado.

O Septimum mostrou cor rubi intensa. Ao olfato, revelou aromas mais evidentes de frutas maduras, lembranças florais e de ervas aromáticas, notas de especiarias e toques tostados. Em boca, apresentou gostosa acidez frutada, toques da madeira e taninos redondos. Um vinho sem arestas, apesar da juventude. Complexo, estruturado e, seguramente, longevo. Ele foi servido sem rótulo, daí não haver foto da garrafa.


Na vinícola Perini, em Farroupilha, provei o Qu4tro 2009, vinho que recebe este nome também por ser elaborado com quatro castas: Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Ancellotta. Mas não é só isso. O quatro vem das quatro estações do ano e das quatro fases lunares, faltores fundamentais no desenvolvimento da videira e das uvas. A garrafa do vinho tem quatro faces e a caixa vem com quatro garrafas. Um produto conceitual.

O vinho é, no bom sentido, provocativo. A cor é rubi-violácea. O nariz é rico em aromas de frutas negras muito maduras, notas de especiarias doces, toques lembrando melado e um intrigante toque cítrico que me remeteu ao marmelo. Em boca mostrou agradável frescor, fruta e taninos presentes. Um vinho longevo.

Os tintos de corte são uma saída interessante para locais de clima instável. A mescla de castas pode fazer a compensação entre elas, gerando vinhos equilibrados, intensos e cheios. É fato que o brasileiro está muito acostumado aos varietais. Mas o brasileiro gosta de bons vinhos. E compra cortes europeus, por tradição. Portanto, esse é um bom momento para aproveitar essa deixa, investir em cortes e apresentar ao mercado boas novidades.



quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Um perfil mais claro nos vinhos brasileiros




A 21 Avaliação Nacional de Vinhos, realizada pela Associação Brasileira de Enologia - ABE, em Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul, no último dia 28 de setembro, marcou mais uma edição da grande festa do vinho brasileiro. Novamente, 16 amostras de vinhos, as mais representativas, neste caso, da safra 2013, foram comentadas por jurados de diversas nacionalidades e degustadas por uma platéia de 850 enófilos presentes ao evento. O resultado premiou vinícolas produtoras desses e de outros 76 vinhos que compuseram a fatia de 30% dos rótulos seleciodas por 120 enólogos, dentre as 309 amostras enviadas para a Avaliação. Um trabalho envolvendo profissionais e muito profissionalismo.

Olhando dentro do suceder dos anos, essa foi mais uma Avaliação Nacional. Ela aconteceu como todas as demais edições. Em Bento Gonçalves, com muita festa, encontros, degustações, jantares. Nos campos e vinhedos, ao redor, com as videiras começando a soltar seus brotos e os pequenos cachos, ainda frágeis, mas já anunciando o advento da nova safra, dos futuros vinhos, da avaliação do ano seguinte. A continuidade, os fatos futuros, o movimento da vitivinicultura.

No entanto, algo simbólico estava no ar, nessa Avaliação. Ela foi a 21. E no Brasil, o número 21 representa a maioridade. Portanto, é possível traçar um simbolismo entre esse número e o estágio em que se encontra a vitivinicultura brasileira, pelo menos a do Rio Grande do Sul, estado que responde por 90% de toda a produção nacional de vinhos. Uma atividade que teve início há mais de 140 anos, com a vinda dos imigrantes italianos para o Brasil. Que ganhou impulso, com a chegada de empresas estrangeiras, a partir da década de 1970. E que se consolidou com o envolvimento e o trabalho de famílias de descendentes dos imigrantes italianos, que passaram a produzir vinhos finos num passado mais recente, de 30 anos para cá. Esses brasileiros, de sobrenomes italianos, acreditaram que poderiam elaborar vinhos de qualidade nos terrenos que herdaram de seus avós e bisavós. Compraram mudas importadas, equipamentos modernos e tecnologia de ponta. Foram estudar agronomia e enologia. Rodaram o Brasil, falando de seus sonhos e mostrando seus vinhos.

No início da década de 2000, o espumante ganhou força no cenário vitivinícola da serra gaúcha. O vinho tinto, o preferido do brasileiro, ficou um pouco de lado. O terroir da serra beneficiava a produção de espumantes, diziam experientes enólogos como Mário Geisse e Adolfo Lona. E, para a tristeza e inconformismo de muitos, penalizava as uvas e os vinhos tintos. Os vitivinicultores aceitaram o fato. A produção de espumantes cresceu. Na média, os espumantes brasileiros têm excelente relação custo x benefício. Eles mostraram grande competitividade ao lado de produtos importados em faixa de preço semelhante e até mesmo um pouco superior. Apenas o Champagne continuou acima da disputa desse mercado, com sua áurea majestosa.

Um vinhedo na Cave Geisse 

Mas os vitivinicultores não desistiram dos tintos. Mudaram os métodos de condução das videiras, plantaram em espaldeira, reduziram o rendimento de uvas, renderam-se às castas mais apropriadas à adversidade climática da serra gaúcha, partiram atrás de outras regiões, no estado, como a Campanha. E foram buscando tintos melhores, mais cheios, com acidez equilibrada, taninos sedosos, bom corpo. Reduziram o uso da barrica, valorizaram a fruta, aprenderam com o mundo, os próprios erros e o terroir.

A Avaliação Nacional de Vinhos, no ano em que completou 21 anos, mostrou que o Brasil vitivinícola melhorou, de um modo geral. E muito. Os espumantes estão consolidados como uma bebida, neste momento, com a cara do Brasil: frescos, tropicais, contagiantes por seus agradáveis aromas de frutas e flores. Os vinhos tintos mostraram que não se resumem apenas à Cabernet Sauvignon. Hoje eles se apresentam com nomes de Merlot (a uva emblemática do Vale dos Vinhedos), Tannat, Marselan, Teroldego, Ancelotta e até mesmo Malbec, que prospera nos campos da vizinha Argentina. E os cortes começam a despontar em meio aos varietais.

O Brasil vitivinícola está mais maduro. Os produtores têm consciência daquilo que podem fazer, onde podem melhorar, dos limites a respeitar. E trabalham dentro disso. Os enólogos vestiram o terroir. Conhecem melhor, hoje, o solo (e realizam estudos para conhecer as diversas parcelas de solos da serra gaúcha) do qual brotam as parreiras que geram as uvas com as quais fazem seus vinhos. Nas cantinas, interferem – principalmente nos produtos de gama superior – sem mascarar o que veio do campo: deixam as uvas mostrarem para onde deve ir o processo e conduzem a vinificação para os melhores vinhos possíveis.

Os vinhos brasileiros, espumantes, brancos, rosados e tintos, estão, indubitavelmente, cada vez melhores. São vinhos frescos, com boa fruta, boa acidez, taninos mais agradáveis. Vinhos ao estilo europeu, gastronômicos. Resultam de uma viticultura e de uma enologia mais maduras. É fato que eles ainda podem e devem melhorar, sempre. É um processo longo e interminável, não há limites. O limite é a colheita de um cacho. E tudo reinicia e novas perspectivas se abrem com a brotação, o nascimento de um novo cacho. É o movimento de séculos, desde que o vinho começou a ser produzido pelo homem.

A área de engarrafamento da Salton 

Os brasileiros acreditam mais, hoje, nos vinhos de seu país. Mas ainda há preconceito. É fato que, às vezes, dentro de uma determinada faixa de preço, um vinho importado pode ser mais encorpado ou estruturado que um nacional. Mas o inverso também ocorre. Há vinhos brasileiros que, dentro de um patamar de valores, apresenta características às vezes mais interessantes que um vinho importado, mais fruta, mais frescor. Degustações às cegas provam isso. E muitas vezes provocam perplexidade.

O Brasil está firmando seus estilos de vinhos. No Rio Grande do Sul, os espumantes são tropicais, frutados e florais, na média. E alguns são mais estruturados, intensos. Os vinhos brancos são frescos, de corpo leve a médio, frutados e com bons aromas. E há os que passam por barricas, ganham estrutura e maior intensidade aromático/gustativa. Os tintos, na média, são frutados, têm notas de especiarias. Em boca, apresentam boa acidez, corpo agradável, taninos gostosos, às vezes doces. Alguns tintos, resultado de cortes, são surpreendentes. Isso foi o que se viu nessa 21 Avaliação Nacional de Vinhos. Um produto nacional com estilo e qualidade. Um produto que nos 30 anos de sua história mais recente evolui muito, muito mais do que isso.


Os Vinhos mais Representativos da Safra 2013

* Vinho Base para Espumante de Pinot Noir - Cave Geisse

* Vinho Base para Espumante de Riesling Itálico / Chardonnay / Pinot Noir - Chandon do Brasil

* Vinho Base para Espumante de Chardonnay - Casa Valduga Vinhos Finos Ltda

* Riesling Itálico - Cooperativa Vinícola Aurora Ltda

* Chardonnay - Cooperativa Vinícola Nova Aliança Ltda

* Chardonnay - Vinícola Góes & Venturini Ltda

* Chardonnay - Luiz Argenta Vinhos Finos Ltda

* Sauvignon Blanc - Vinícola Miolo Ltda

* Cabernet Franc - Vinícola Salton S.A.

* Teroldego - Vinícola Monte Rosário - Vinhos Rotava

* Teroldego - Vinícola Don Guerino Ltda

* Merlot - Vinícola Perini Ltda

* Merlot - Bueno Bellavista Estate

* Malbec - Vinícola Almaúnica Ltda

* Marselan - Vinícola Dom Cândido Ltda

* Cabernet Sauvignon - Rasip Agropastoril S.A.

sábado, 3 de agosto de 2013

Real Companhia Velha e seus vinhos do Douro




O vinho do Porto é um ícone da vitivinicultura portuguesa. E o Douro, uma região vinhateira símbolo no norte de Portugal, a primeira área de vinhos a ser demarcada no mundo. Foi a partir da Fundação da Real Companhia Velha, em 1756, que a demarcação, promovida pelo Marquês de Pombal, aconteceu na região. Uma iniciativa que marcou um divisor de águas na produção de vinhos, na Europa. Uma forma de garantir a autenticidade, tipicidade e a qualidade de uma área produtora. E seus vinhos, é claro! Nessa postagem, você poderá ver com alguns detalhes o que é o Douro e como aconteceu a demarcação.

O Douro

A história do Douro é muito antiga. O Vale do Douro foi cavado na rocha pela ação da erosão. Apesar de ser mais famoso em solo português, o Douro nasce na Espanha, na província de Sória, nos picos da Serra do Urbião, na região de Castilla Y Leon. Ali, se chama Duero e empresta seu nome a uma importante denominação espanhola de vinhos, a Ribera del Duero. No entanto, a característica dos vinhos da Ribera é diferente dos vinhos do Douro. A diferença começa pelos solos. Na Espanha, as videiras crescem sobre solos majoritariamente calcários e arenosos, diferentes do solo de xisto das margens portuguesas.


A estrutura rochosa que forma as encostas do Douro português data de cerca de 600 milhões de anos. Dentro dessa geografia, com clima extremo de dias extremamente quentes e noites frias, nasceu a região vitivinícola do Douro, uma obra dos homens. Ali já se faziam vinhos entre os séculos III e V. Mas a história da bem sucedida da região começou há cerca de três séculos.

O nascimento, no Vale do Douro, da primeira região demarcada de vinhos do mundo foi um marco na história da vitivinicultura global. A partir do Douro, nasceram outras regiões demarcadas de vinhos pelo planeta. Uma prática hoje materializada nas Denominações de Origem Controlada, as DOCs, uma importante referência na classificação dos vinhos europeus. E que agora começa a chegar ao novo mundo.

A Real Companhia Velha

Visitei, em Vila Nova de Gaia, a Real Companhia Velha. A empresa, inicialmente conhecida também como Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Auto Douro, foi criada no dia 10 de setembro de 1756, por alvará Régio do Rei D. José I. Ela nasceu sob o comando do então primeiro-ministro português, Sebastião José de Carvalho e Mello, o Marquês de Pombal. A companhia reunia os principais lavradores do Alto Douro e os chamados “homens bons” da cidade do Porto. Sua função era sustentar a cultura da vinha na região do Douro e garantir a qualidade do vinho do Porto, muito consumido, à época, pelo mercado inglês.


A partir da criação da companhia se fez a demarcação da região do Douro. Entre os anos de 1758 e 1761 foram colocados, nas propriedadas do Douro, 335 marcos de pedra com a designação Feitoria. Os vinhos de Feitoria eram os produtos de melhor qualidade, os DOCs da época. Só eles podiam se exportados para a Inglaterra. Na entrada da sede do Instituto do Vinho do Porto, na cidade do Porto, há um marco pombalino em exposição, igual àqueles utilizados na época da demarcação. Em 1907, a demarcação foi estendida ao Douro Superior.

A Região Demarcada do Douro

Hoje a região demarcada do Douro se estende por uma área de 250 mil hectares. As videiras frutificam em pouco mais de 18% desse território. Elas somam cerca de 46 mil hectares, divididas pelas sub-regiões do Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior. Os vinhedos mais antigos, cerca de 24 mil hectares, construídos sob patamares, são considerados patrimônio da humanidade.


Nesses patamares frutifica uma grande diversidade de uvas. O número gira em torno de uma centena de castas. No entanto, 29 são recomendadas na produção dos vinhos locais. Entre as tintas, as mais importantes são a Tinta Roriz, Touriga Franca, Tinta Amarela, Tinto Cão, Tinta francisca, Bastardo e a Touriga Nacional, esta ultima cultivada em todo o país. Entre as brancas, Viosinho, Rabigato, Malvasia Fina, Gouveio e Esgana Cão. Há muitos vinhedos mistos na região, com castas variadas plantadas no mesmo vinhedo. Uvas, inclusive, desconhecidas. Uma vez o produtor Domingos Alves de Sousa contou-me que tem, num de seus vinhedos, uma uva branca que desconhece. A ela deu o nome de Branca sem Nome. Isso torna o fator microterroir muito importante. Muitas quintas produzem vinhos únicos, em função desses vinhedos antigos, compostos por diversas variedades.

Do império para o mercado

A Real Companhia Velha manteve-se vinculada ao estado português por outros cinco reinados. Em 7 de dezembro de 1865, ela perdeu seus chamados privilégios majestáticos e tornou-se uma empresa normal. Mas leva consigo a história, dentro dos velhos tóneis e barricas que guardam o ouro do Douro. O armazém da Real Companhia Velha é um local onde se respira o Douro.  As fileiras de barricas guardam os Portos colheitas, portos com idades e os Vintages, os grandes vinhos safrados. Pelas janelas do armazém, a luz oferece uma claridade tênue, o necessário para iluminar, sem interferir na cor dos vinhos. Segundo os atuais proprietários a vinícola é a mais antiga em operação em Portugal.


As garrafas dos vinhos do Porto da Real Companhia Velha guardam o glamour dos velhos tempos. Uma empresa que hoje tem seis propriedades em Portugal: Quinta das Carvalhas, Quinta do Cidrô, Quinta dos Aciprestes, Quinta do Casal da Granja, Quinta do Síbio e Quinta do Corval. Ao todo, são 550 hectares de uvas próprias, com as quais são produzidas 8 milhões de garrafas de vinhos do Porto e Douro DOC, exportados para mais de 40 países, entre eles o Brasil. Para isso, a empresa tem cerca de 200 marcas registradas. Vinhos, alguns deles, bastante conhecidos dos brasileiros. Entre eles, o Porca de Murça e o Grandjó.

Primeira importação em 1756

A Real Companhia Velha tem uma antiga relação comercial com o Brasil, atualmente o melhor mercado fora da Europa para os vinhos da empresa. A primeira importação para o Brasil, para o Rio de Janeiro, aconteceu em dezembro de 1756, no mesmo ano de fundação da vinícola. Portanto, uma história de 257 anos. 

“No Brasil houve um crescimento significativo do vinho do Porto na última década. Só no ano passado é que as vendas caíram um pouco”, informa Pedro Silva Reis, presidente da Real Companhia Velha. Depois de uma venda recorde registrada no início da década de 2000, as vendas desse produto vêem apresentando uma pequena queda. No entanto, têm caído menos que outras bebidas congêneres, observa o produtor. “O que nos deixa bastante entusiasmados para que brevemente possa haver uma retomada”, afirma Reis.

 Pedro Silva Reis, presidente da RCV
A queda, no entanto, acontece nos produtos básicos das linhas Ruby e Tawny. “Dentro das categorias especiais, de gama média e reserva, tem se verificado alguns crescimentos importantes que, de certo modo, têm compensado a queda”, continua Pedro Silva Reis. Entre as categorias que cresceram estão o LBV e os reservas Tawny e Ruby. Já na categoria Douro DOC, onde estão os vinhos  tranquilos brancos e principalmente tintos, as vendas vão bem.  “A Real Companhia Velha tem muita tradição no Brasil”, conclui o produtor.

Vinhos

Provei os vinhos do Porto e alguns vinhos tranquilos, durante um almoço na Real Companhia Velha, onde estive em junho deste ano a convite do projeto Douro/Estrela. A seguir as notas de prova de três vinhos.

Foto de João Lombardo

Quinta do Cidrô Alvarinho Douro 2012
Composição: 100% Alvarinho.
Teor alcoólico de 13%.
A Alvarinho é uma novidade no Douro. Esse vinho de cor palha dourada mostra uma agradável composição aromática de frutas amarelas, inclusive frutas tropicais, notas florais e minerais.
Tem uma boca com acidez muito gostosa, cheia e frutrada. Além da mineralidade. Não fica atrás dos Alvarinhos do Minho e mostra que a casta, típica de regiões mais úmidas, pode se dar bem também em climas extremos.

Foto de João Lombardo

Carvalhas 2010 DOC Douro
Composição: Viosinho, Gouveio, Rabigato, Vinhas Velhas.
Teor alcoólico: 14,5%
Vinho de cor amarelo dourado. Aromas de frutas amarelas maduras, notas de especiarias como o gengibre, toques minerais.
A boca é fresca, mineral, com boa sapidez, longa e equilibrada.

Foto de João Lombardo

Quinta dos Aciprestes 2007 DOC Douro
Composição: Touriga Nacional e Touriga Franca.
Vinho de cor rubi/rubi. Nariz com aromas de frutas vermelhas maduras, floral de violeta, especiarias doces, notas de chocolate e minerais. Nariz complexo.
Boca com agradável acidez, sápida, com taninos finos. Vinho muito equilibrado.




quarta-feira, 24 de julho de 2013

Alvarinho da Campanha Gaúcha


Provei ontem o Alvarinho Quinta do Seival 2012, feito pela Miolo no município de Candiota, Campanha Gaúcha. Quem diria que o Brasil faria Alvarinhos! E esse ganhou tipicidade tupiniquim, com a predominância de notas olfativas de frutas tropicais. Em boca, conjugou agradável frescor e maciez, esta última resultante da fermentação e estágio do vinho por 10 meses em barricas novas de carvalho francês, sofrendo sucessivas bâtonnages (agitação das borras finas pós-fermentativas). Um processo menos comum no Minho e na Galícia, as grandes pátrias do Alvarinho. Mas também utilizado por alguns enólogos, que fermentam e estagiam seus Alvarinhos em madeira, em busca de outros estilos. O resultado, no caso desse Miolo, é um vinho gostoso, que harmonizou muito bem com uma "Quenelle de Peixe em Bisque de Camarões", preparado pela chef Joyce Francisco e sua equipe, no Joy Joy Bistrot, em Florianópolis. Uma noite em que foram apresentados por Adriano Miolo vários vinhos da vinícola, entre eles o Shiraz Testardi 2012, do Vale do São Francisco, e o Lote 43 safra 2011, da Serra Gaúcha. O jantar, em toda sequência, estava muito saboroso.

Sou fã da Alvarinho. Concordo com o crítico português Rui Falcão: essa é uma das grandes uvas brancas do mundo, ao lado da Chardonnay, Sauvignon, Chenin Blanc e Gewürztraminer. No Minho seus vinhos são frutados, cítricos, florais e minerais, com boca fresca e intensa. Na Galícia, são frescos, frutados, cítricos, igualmente intensos. Já provei Alvarinhos feitos no Douro e até no Alentejo. O Uruguai, mais especificamente a família Bouza, faz um Alvarinho muito gostoso também aqui pelo Cone Sul. Uma casta que envelhece muito bem.

Tive a honra de poder integrar o juri do Alvarinho International Wine Challenge 2011, realizado em Melgaço, no Minho, Portugal. Numa degustação, dentro da programação, fomos brindados com Alvarinhos com idades de até 19 anos (matéria "Alvarinho, Vinhos com Vocação para a Guarda", no joaolombardo.blogspot.com). Entre os vinhos estavam algumas safras do Soalheiro e Dona Paterna. Todos fantásticos. Minerais, provocativos, intensos e com a acidez muito viva. Gosto muito dos Alvarinhos de Anselmo Mendes, um dos enólogos portugueses que conhecem profundamente e trabalham muito bem as qualidades dessa casta. Aliás, Anselmo anda pela Campanha Gaúcha e pela serra de Santa Catarina, onde presta assessoria para as vinícolas da família Hermann, proprietária da importadora Decanter, de Blumenau. Então, vou fazer uma torcida: que venham mais Alvarinhos brasileiros para, ao lado dos vinhos de além mar, possibilitarnos conhecer as várias características dessa uva pelo mundo!

sábado, 20 de julho de 2013

Evolução e Revolução na Vitivinicultura Chilena



Vinhedos da Vik, em Milahue, Colchagua (foto de divulgação)

A vitivinicultura chilena vive um período de grande movimentação e transformações, mudanças que se intensificaram nos últimos cinco anos. País de vitivinicultura tradicional, com mais de 450 anos, os produtores andinos decidiram, neste milênio, investir em novos estilos de vinhos. Eles começaram a plantar uvas em regiões mais frescas, áreas costeiras, vales extremos e zonas aos pés da cordilheira dos Andes. Os resultados estão sendo vistos em vinhos com maior expressão de fruta e menores teores alcoólicos, por exemplo. E em varietais como Sauvignon Blanc, Pinot Noir, Carignan, Petit Verdot  e Syrah, castas que até meados da década passada tinham pouca ou nenhuma expressão no país.

“A tendência no Chile, hoje, é buscar zonas diferentes. Atualmente, as zonas frias estão em alta, principalmente aquelas próximas à costa”, afirma Joana Pereira, enóloga da viña Bisquertt Family Vineyards. Localizada no Vale de Colchagua, a empresa cultiva as castas clássicas francesas e produz as linhas de vinhos Petirrojo Reserva, La Joya, Ecos de Rulo Single Vineyard, o corte Clay Syrah/Cabernet Sauvignon e o Tralca, um corte de Cabernet, Carménère e Syrah. Até quatro anos atrás, La Joya era a única marca da empresa. Mas a Bisquertt está investindo forte nesse novo momento.

Errazuriz (arquivo de João Lombardo)

Na centenária Errazuriz não é diferente. A empresa, responsável por marcas importantes como Seña, Aborleda, Viña Chadwick e Caliterra, além da própria Errazuriz, atravessa uma fase de mudanças, nas palavras do enólogo Pedro Contreras. “Está havendo uma evolução e uma revolução no Chile. Está ocorrendo a busca por lugares extremos para produzir vinhos de caráter”, afirma. Para Contreras, aconteceram mudanças importantes nos últimos três anos, no país. Essas mudanças estão alterando o perfil de parte dos vinhos chilenos, normalmente muito estruturados e marcados pelas notas vindas das barricas novas de carvalho. Estudos de solo estão dentro dessa fase de aprendizado, nesse novo momento. Assim como a melhor utilização da irrigação, das barricas etc.

Na também centenária Viña Santa Carolina, além da aposta nos vales mais frescos, está se investindo na renovação de castas antigas, como a Carignan. A vinícola tem no mercado seu Santa Carolina Dry Farming Carignan 2009, elaborado com uvas do Vale de Cauquenes. Os vinhedos estão a 450 km ao sul de Santiago, no chamado “secano costeiro”. As vinhas são antigas, têm cerca de 70, 80 anos e não são irrigadas. Elas também não têm condução, são pequenos arbustos, chamados de vaso, na Espanha, ou alberello, na Itália. O resultado é um vinho muito fresco, repleto de frutas vermelhas, notas de pinheiro e especiarias doces. Um vinho frutado, em boca, com corpo agradável e taninos leves.

“Essa é uma variedade potencial. Mas a produção é muito pequena. É, portanto, um vinho para mercados diferentes”, afirma o enólogo Iván Martinovic T, da Santa Carolina. A vinícola também investe em um vinho de Mourvèdre e ainda nas castas Syrah e Petit Verdot, como varietais.

 Chilcas País (foto arquivo de João Lombardo)

A Via Wines, no Vale do Maule, é outra empresa que busca dar vida nova à uva País, também conhecida como “Criolla” na Argentina. A bodega tem um varietal sob o rótulo Chilcas feito com a uva cultivada no interior do Vale do Maule. A casta, que seria a mesma Listán Prieto espanhola, foi introduzida no Chile no século XVI. E hoje é tratada como uma uva dos velhos tempos. “Queremos recuperar essa variedade, para fazer um vinho que seja rico”, afirma o enólogo chefe da bodega, Camilo Viani. O vinho produzido com ela é agradável, frutado, com sutis notas de especiarias como a pimenta e toques terrosos. Tem boa acidez, médio corpo e taninos presentes, sem serem agressivos. O resultado ficou bom. Miguel Torres, nome famoso na vitivinicultura chilena, também tem um espumante à base de País. Empresas quebrando o preconceito, provocando uma reviravolta na viticultura de seu país.

Em outra vinha muito antiga, a Santa Rita, a enóloga Cecília Torres afirma que o Chile tem grande potencial para fazer coisas diferentes. “Estamos como os adolescentes, numa busca constante. E vai chegar uma hora em que atingiremos a maturidade. E então teremos uma personalidade Chile”, afirma a enóloga. Ao comentar sobre a volta da Carignan, ela disse achar interessante os vinhos dessa casta produzido em áreas costeiras. Cecília acredita haver espaço para outras uvas no país. Por exemplo, para castas portuguesas. Segundo a enóloga, o sul do Chile é uma direção importante para os viticultores. “Temos que nos mover para lá”, sugere.

Apesar de falar em novas uvas, Cecília Torres faz questão de mencionar a casta da tradição chilena, o Cabernet Sauvignon. “Trata-se de uma uva muito completa e complexa. Uma casta de muita elegância e potencial para envelhecer, que pode parar em qualquer mesa do mundo”. Essa é uma grande uva para a Santa Rita, que gera vinhos que contruíram o nome e o prestígio da casa. E também para o Chile. O Cabernet Sauvignon chileno é um vinho com personalidade própria, agradável, com caráter. O que não impede as empresas de investirem em outras uvas e ousar.

 Vinhedos de Carménère na Vik (foto de divulgação)

Até mesmo o Carménère é alvo de mudanças. Casta que gera vinhos com notas remetendo a frutos maduros, especiarias e toques vegetais, algumas bodegas estão produzindo Carménères mais frescos, com fruta viva e praticamente sem o tradicional herbáceo que faz parte do perfil organoléptico dos vinhos. É o caso da Viña Maquis, localizada no Vale de Colchagua. Os 140 hectares de vinhedos da empresa estão localizados entre os rios Tinguiririca e Chimbarongo. “É um lugar único. Os solos têm alto conteúdo de argila com gravas, que asseguram excelente drenagem”. afirma Ricardo Rivadeneira Hurtado, enólogo e diretor da empresa.  Segundo ele, essa condição permite à uva Carménère amadurecer mais cedo e, portanto, ser colhida também mais cedo. No Chile, a Carménère costuma ser colhida até maio. Na Maquis, a colheita ocorre em março.

“Aqui os Carménères são especiais”, acrescenta Hurtado. “A maioria dos Carménères do Chile está representada por vinhos maduros, com taninos redondos e gosto mais a geléia do que a fruta fresca. No nosso caso, buscamos vinhos frescos, com mais aromas frutados e florais, grau alcoólico menor e acidez natural um pouco mais elevada”, afirma o enólogo. Um estilo de Carménère diferente.

Patrick Valette (ex-Château Pavie) e Gonzague de Lambert (ex-Château de Sales) estão trabalhando na produção de um vinho de alta qualidade no Vale de Cachapoal, o Vik. Uma vinícola de propriedade do empresário norueguês Alexandre Vik, instalada dentro de uma área de 4.325 hectares. Um vinhedo de 390 hectares que, para ser plantado, aguardou a realização de 4.500 perfurações, em diferentes áreas da propriedade, para análises de solo. O objetivo era encontrar os melhores microterrenos para cultivar cada variedade. Ali estão plantados Cabernet Sauvignon, Carménère, Cabernet Franc, Merlot e Syrah. Uvas utilizadas na produção do Vik, um vinho de assemblage elaborado através de uma vitivinicultura de precisão.

 O Vik (foto de divulgação)

“O Chile tinha vinhos mais industriais, necessários. O país ofereceu e oferece muitos bons produtos, por preços razoáveis. Mas, ao mesmo tempo, o Chile está passando por uma evolução”, afirma Patrick Valette. O enólogo comenta que todo mundo está acostumando a olhar o Chile de Norte a Sul. Ele prefere ver o país de Leste a Oeste. Ou seja, analisar o país vitícola sob o ponto de vista da influência do Oceano Pacífico e da Cordilheira dos Andes sobre as vinhas. Para o enólogo, essa influência é mais importante para a vitivinicultra, a que faz a diferença no quesito terroir.

Patrick Valette afirma que, hoje, os profissinais do vinho no Chile respeitam muito mais o conceito de terroir que no passado. “Eu diria que hoje há um conhecimento e uma prática do conhecimento”, afirma. Segundo ele, o país se transformou num produtor muito estruturado e profissional. “O resultado é um trabalho muito mais preciso do que no passado”. A Vik é um exemplo. E também os vinhos de vinícolas que estão investindo nessa nova fase. Vinhos, como se disse, mais frescos e frutados, menos alcoólicos, mais gastronômicos. Um país vitivinícola consolidado, num processo de redescobrimento e transição.

(Matéria escrita por mim e publicada no jornal Vinho & Cia, na edição Inverno 2013)



quinta-feira, 4 de julho de 2013

"Lisbon Revisited": Café Nicola



O Café Nicola é um dos lugares emblemáticos de Lisboa. Ele fica no Rossio e, sentado junto a uma de suas mesas, do lado de fora, é possível admirar as muralhas do Castelo de São Jorge e a região da Baixa Lisboeta. E, ali, provar algumas delícias portuguesas, como uma boa fatia de queijo cremoso da Serra da Estrela, de entrada. E o Bacalhau a Nicola, prato da casa, onde uma posta alta e bem assada de bacalhau chega à mesa mergulhada em suculento e saboroso molho de natas, guarnecida com batatas crocantes. E, claro, acompanhada de um (ou uns?) bom copo de vinho. 

Foi um italiano de nome Nicola o primeiro dono do estabelecimento, conhecido, inicialmente, como Botequim do Nicola. Escritores, poetas, artistas e malditos tornaram-se habitués do local. Entre eles, Manuel Maria Barbosa du Bocage, o famoso poeta Bocage. Nos fundos do salão interno do café há uma estátua do Bocage, sobre um pedestal alto. Também conhecido como o Boca do Inferno, Bocage escreveu sátiras mordazes contra tudo e todos. Satirizou, inclusive, situações envolvendo ele próprio. Conta-se que certa noite, tendo saído do Nicola, foi abordado por um homem que, com uma arma em punho apontada para ele, perguntou: "quem és, de onde vens, p'ra onde vais"? Bocage, com a irreverência de sempre, teria respondido: "sou o poeta Bocage, venho do Café Nicola e vou para o outro mundo se disparas a pistola". Uma pitada de bom humor, que faz parte das histórias que cercam o agradável Café Nicola, com seu gostoso cardápio e boa carta de vinhos, na movimentada área central de Lisboa!

sábado, 8 de junho de 2013

Guatambu: vitivinicultura de precisão na imensidão do pampa




Foi oficialmente inaugurada no último dia 7 de junho em Dom Pedrito, Rio Grande do Sul, a Guatambu Estância de Vinhos. A vinícola familiar, comandada por Valter José Pötter e sua filha Gabriela, com a participação das irmãs Isadora, Mariana e Raquel, é fruto de um projeto que começou há 10 anos, com a formação de um vinhedo de Cabernet Sauvignon em meio a uma fazenda de criação de gado de raças britânicas, ovelhas e onde se plantam cereais como arroz, milho e soja. Hoje, são 22 hectares de videiras das variedades Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat, Pinot Noir, Tempranillo, Chardonnay, Sauvignon Blanc e Gewürztraminer. Vinhedos cultivados sobre solos pedregosos, em planícies e suaves colinas. Videiras abençoadas pelo protetor e refrescante vento Minuano. Micro terroirs minuciosamente pesquisados dentro de uma propriedade de 4,5 mil hectares, para buscar os melhores frutos e, com eles, produzir vinhos de qualidade.

A Guatambu colocou, numa degustação vertical, para um grupo de jornalistas brasileiros, o Rastros do Pampa Cabernet Sauvignon de seis safras: 2007, 2008, 20092011, 2012 e 2013. Esse é o vinho emblemático da empresa. Também foi colocado em degustação um vinho ainda em amadurecimento, o Épico, resultado de um corte de Tannat, Cabernet Sauvignon e Merlot. No corte foram mesclados vinhos das safras 2011, 2012 e 2013. E foram servidas ainda as safras 2011 e 2012 do espumante Guatambu Nature, produzido pelo método Champenoise. Os espumantes revelaram notas frutadas, toques florais e de leveduras. O 2011 apresentou um agradável tostado e uma complexidade própria do envelhecimento. O 2012 estava mais vivaz. Em boca, boa cremosidade e acidez. Os Cabernets mostraram evolução vitícola, consistência enológica e uma tendência, nas novas safras, a caminho de um estilo mais novomundista. Revelaram agradável frescor, leque aromático com notas frutadas e especiadas, bom volume em boca e taninos elegantes. O Épico apresentou estrutura, complexidade aromática e uma bem-vinda promessa de longevidade.


Foi lançado, por ocasião da inauguração da vinícola, o Tannat Rastros do Pampa 2012. Um vinho fresco e frutado, diferente de Tannats franceses e uruguaios. Um excelente companheiro para pratos mais estruturados elaborados com carnes de gado, ovelha e cordeiro. Mas também agradável para o copo e para a conversa, por não se tratar de um Tannat pesado, corpulento. Foi lançado também o espumante Guatambu Rosé Brut, um corte de Gewürztraminer com Pinot Noir, elaborado pelo método Champenoise. Um produto alegre, frutado e floral. Um vinho do prazer, companheiro de petiscos leves e preparos com frutos do mar. A vinificação está a cargo dos enólogos Alejandro Cardozo e Javier Gonzalez.

A Guatambu entra no mercado com um projeto consistente. A vinícola é auto sustentável. Na bela edificação, em estilo espanhol colonial, foram utilizados tijolos e materiais de demolição de casas da Campanha. A energia elétrica já vem parcialmente e virá totalmente da luz solar. A água é captada das chuvas, tratada e reaproveitada. A empresa pratica o Plano de Alimento Seguro (PAS).

A estrutura comporta espaços para o enoturismo e enograstronomia. Há um amplo salão com churrasqueira, para a recepção de visitantes, degustações e realização de eventos. A idéia e combinar a culinária típica regional (que contempla a tradicional parrilla e pratos como espinhaço de ovelha) com os vinhos produzidos na Estância. E também oferecer atividades como cavalgadas, por exemplo.

O espaço enogastronômico 

Com 100 mil garrafas de vinhos disponíveis para o mercado, este ano, e projeção para 170 mil, em 2014, a vinícola dedica 50% da produção aos espumantes. Os estilos são Extra Brut, Nature, Brut, Demi-sec e Rosé, sob os rótulos Gatambu e Poesia do Pampa. Os outros 50% da produção vêm dos vinhos tranquilos. São eles os tintos Rastros do Pampa Cabernet Sauvignon, Tannat e Merlot; o Luar do Pampa, um varietal de Gewürztrminer, e o Vinho da Estância, um produto clássico, corte de Cabernet Sauvignon, Tannat e Tempranillo. Tem ainda o Épico, que levará um pouco mais de tempo para chegar ao mercado. Ao todo, são dez rótulos disponíveis hoje. Uma vinícola para reforçar a presença e o estilo da Campanha Gaúcha no cenário do vinho brasileiro. Uma empresa que conjuga a simplicidade do pampa com a mais moderna tecnologia vinícola disponível no planeta.


sexta-feira, 31 de maio de 2013

Carménères mais frutados


O Carménère é um vinho que nunca chamou tanto minha atenção. Apesar do perfil macio e agradável, sempre achei um pouco destacada aquela tradicional nota verde dos varietais elaborados com a uva. Pude provar, agora em viagem pelo Chile, Carménères diferenciados, mais frescos, frutados, especiados e até mesmo florais. Vinhos onde o toque vegetal, às vezes imperceptível, às vezes sutil e bem integrado, somou-se às demais camadas aromáticas, compondo uma rica complexidade. Interessante saber que os produtores chilenos continuam trabalhando a casta, identificada em meio aos vinhedos de Merlot, há cerca de 20 anos. É muito bom saber que eles estão buscando maior frescor e leveza nos varietais produzidos com ela. É uma casta cujos vinhos ainda estão em construção. Não que eles estejam sendo maquiados, muito pelo contrário. Há um trabalho de encontrar novos terroirs para as uvas. E, assim, produzir novos estilos de Carménères, a partir de uvas diferenciadas. Vinhos mais vibrantes. O que muda minha opinião a respeito desses produtos. Acima, o Carménère Maquis, cujas uvas são colhidas em março, dois meses antes do período em que a grande maioria dos produtores colhe, em maio. Isso, pela particularidade do terroir onde está o produtor, em Colchagua. É pena que esse vinho ainda não tenha chegado ao Brasil.